quarta-feira, outubro 25, 2006

Semana 4 / ECS 6 - Weber II

Registre, em seu blog individual, duas situações vividas no seu local de trabalho, que possam ser analisadas a partir da teoria de Weber.


Relato número 1:

Época de eleições para direção de escola em que eu lecionava. Eu e mais duas colegas concorríamos em uma chapa que buscava conquistar o lugar ocupado, fazia muitos anos, pela mesma direção, a qual estava a concorrer mais uma vez.

Não havia favoritos, conforme podíamos perceber no dia a dia. Porém, a medida que o momento da escolha se aproximava, percebemos um distanciamento de toda a equipe diretiva de então para conosco, como se houvéssemos nos tornado “personas non gratas” para toda a escola, visto que começaram a surgir comentários. Mas que tipo de comentários? Alertavam para o fato de que a saída da direção que tanto já fizera pela escola (ao menos apregoavam haver feito) traria toda a sorte de equívocos administrativos e pedagógicos, para não citar os reais termos que passaram a ser lançados em nossa face.

A eleição chegou. Em uma primeira apuração tivemos um empate. Contudo, uma de nossas fiscais percebeu que um voto fora “desconsiderado”. Coincidentemente, era um voto que nos dava crédito. Na recontagem, ganhamos em função deste único voto.

Todos os integrantes da outra chapa passaram a gritar, isso mesmo, a gritar conosco. Diziam que iríamos acabar com a escola que eles tanto lutaram para erguer (a mesma retórica destemperada pré-eleição). A diretora de então caiu em um pranto assustador, pois ouvíamos seu choro que vinha de uma outra sala, aquela que considerava sua: a sala da direção.

O ano seguinte mostrou, óbvio, que a escola não cairia em retrocesso de forma alguma, bem pelo contrário. Mas disso tudo ficou um alerta: algumas pessoas simplesmente não toleram a idéia de perder o poder, assim como àqueles que representam, a seus olhos, uma ameaça de se tornarem protagonistas desejosos de mudarem o cenário. Tornam-se irreconhecíveis quando questionadas e até mesmo violentas quando percebem que perderam algo que, neste caso, apenas lhes fora confiado por algum tempo.

Conclusão: se um cargo qualquer nos faz mudar de pessoas amáveis para indivíduos mesquinhos, nos tornando arrogantes e prepotentes, somos muito pequenos para assumí-lo.

Relato número 2:
Foi um único dia em meus 39 anos de idade, quase 20 de magistério. Contudo, chocou-me de tal forma que muitos anos tendo se passado, ainda o recordo sempre que um conselho de classe final se aproxima.

Éramos então seis professores de turmas de 4ª série. Eu trabalhava com Matemática, e cada colega assumira uma ou mais disciplinas, de acordo com a carga horária exigida legalmente. Tínhamos quatro turmas maravilhosas, daquelas que marcam nossa memória apenas com os melhores exemplos de dedicação e entusiasmo por parte de alunos, pais e professores.

Aconteceu que, na última das quatro turmas, uma colega de trabalho, que tinha o ensino da Língua Portuguesa como sua responsabilidade, passou a afirmar que um determinado aluno não tinha as mínimas condições de ser aprovado para a série seguinte. A princípio, trata-se de um comentário que praticamente todo professor já ouviu ou proferiu alguma vez. Contudo, aquele não se tratava de um caso qualquer, pois os demais professores não concordavam com o parecer que ouviam. Enquanto nos era afirmado que ele sequer sabia ler corretamente e que a interpretação de textos tratava-se de uma tarefa impossível para o aluno, argumentávamos contra, citando sua habilidade de interpretar desafios matemáticos e resolvê-los, assim como uma nada desprezível capacidade de compreender os dados em um atlas, respondendo praticamente todos os questionamentos que lhe fossem feitos de forma correta.

A reunião simplesmente parou. As pessoas ficaram nervosas, começaram a elevar o tom da voz, pois percebiam, de um lado, que a professora não se deixaria demover de sua convicção em prol da reprovação e, de outro, que todos os demais professores estavam sendo questionados em sua capacidade de realmente avaliar aquele aluno. O resultado não foi positivo para qualquer um dos protagonistas daquela situação: a reprovação aconteceu, os professores se afastaram daquela colega irredutível, a qual acabou solicitando remanejo de escola e provamos o quanto uma decisão equivocada e alicerçada em crenças pode causar uma tragédia emocional na vida de muitos que nos rodeiam, assim como em nós mesmos.

Isso ocorreu em um tempo que a nota obtida por um aluno exclusivamente através de provas escritas decidia completamente seu momento presente... embora ainda percebamos reflexos dessa prática de avaliação unilateral em várias de nossas escolas. Mas o que se escondia por detrás da postura inflexível de nossa colega da Língua Portuguesa era tanto uma necessidade de reafirmar o poder que detinha sendo ela a professora, quanto lembrar ao menino e a todos a seu redor que ele continuava sendo o aluno, visto hierarquicamente abaixo da sua posição de educadora. Ousaria dizer que, à luz de Weber, trata-se de uma dominação tradicional, pois existia uma certeza da impunidade baseada na crença dos poderes e da santidade que a professora assumira para si mesma. Permitir que o aluno fosse aprovado, antes de sinal de humildade, admitindo haver avaliado parcialmente o aluno, “poria em perigo a legitimidade de seu próprio domínio”.

6 comentários:

Edinara Scheffer Costa disse...

Paulo,
Achei muito interessante teu relato.Infelismente este tipo de situação é mais comum do que imaginamos. O poder e a acomodação muitas vezes prejudicam uma boa prática educativa.

lisiwalter disse...

Oi Paulo!
Concordo contigo quando relatas o fato de que o poder transforma as pessoas e realmente algumas dessas pessoas consideram-se donas dos cargos que ocupam e não toleram a disputa desses mesmos.Visite meu blog. Sou Lisi Walter de São Léo

Roselaine da Mota Zanette disse...

Essa atitude da diretora, mostrada em seu primeiro relato,amigo Paulo, mostra claramente como ainda é difícil para muitos lidarem com o poder. Principalmente, lidarem com a perda dele. Já vi outros casos de pessoas que não conseguem ficar na mesma escola após perdê-lo.Fico me perguntando "Será que eu saberia?" Deve-se ter maturidade para lidar com esse sentimento, porque mexe intimamente com nossos fracassos e frustrações. Gosto muito de ler suas opiniões. São ricas e bem coerentes. Um beijão!

ROSALI ATIVIDADES DO PEAD 2007 disse...

Olá Paulo! Comentando sobre teu trabalho WeberII,é impressionante o teu relato sobre o poder nas mãos das pessoas. Como falta concientização e consideração das pessoas umas com as outras, no sentido de aceitar que todos temos o nosso tempo de somarmos ou diminuirmos coisas com nossas atitudes. Ninguém é dono de nada, podemos sim é melhorar ou piorar as coisas. Um abraço Rosali.

Roseane Machado da Silveira disse...

Paulo, seus relatos foram sem dúvida a prova viva de que infelizmente existem pessoas de pensamentos pequenos, que não admitem o fato de serem contrariadas.
O que me deixa impressionada é saber que pessoas desse tipo são "educadoras"!!!!
Parabéns pelo seu trabalho.
Abraços. Pólo de Alvorada.

Silvana Schuler Pineda disse...

Paulo,
Fico muito feliz ao acessar teu blog. Percebo tua preocupação em tornar a apresentação atrativa e clara. Parabéns! Do ponto de vista das análises que realizas dos autores em estudo, percebo, também, tua preocupação em realizar um trabalho profundo, pessoal e sempre acrescentando elementos além das informações que são solicitadas. Os teus relatos sobre as situações vividas na escola demonstram a conexão que realizas, sem dificuldade, da tua prática pedagógoca com as teorias que estamos estudando. Mais uma vez Parabéns!
Um abraço
Profª
Silvana