domingo, novembro 26, 2006

Reflexões sobre as palavras de Charlot

Após ler a entrevista com Bernard Charlot na revista Nova Escola de outubro de 2006, na qual afirma acertadamente que a escola perde seu sentido quando faltam “reflexão no saber e prazer e aventura em classe”, busquei na Internet mais dados acerca deste pesquisador francês que tem olhado para a escola brasileira com uma especial atenção. O que mais cativou-me em sua postura foi a sua escolha por não apontar obstinadamente os culpados pelos problemas que todos nós conhecemos. Charlot opta pela busca da origem das crises enfrentadas diariamente nas mais diferentes escolas do Brasil e de sua terra natal, a França.

Conclui o pesquisador que certas questões são universais e que a escola é uma delas.

Para Charlot, existe realmente um descompasso entre o professor e o aluno. Os frutos de tamanho abismo são a falta de entendimento acerca dos resultados obtidos pelo aluno ao final de um dado período de estudos. O aluno argumenta que estava presente em todas as aulas e diz não entender o porquê de uma avaliação negativa por parte de um professor que afirma ser o educando um preguiçoso. Obviamente são dois pontos diferentes – presença física e comprometimento com o trabalho – e que acabam resultando discursos distintos. Para o professor Bernard Charlot, o que precisa ser analisado por ambas as partes é a sua trajetória no ensino, na construção do saber, observando também a situação de aprendizagem sob o ponto de vista alheio, buscando entender onde houve falha.

Segundo o mestre, para os alunos franceses a escola é um lugar basicamente onde lhe é proporcionada diversão e espaço para namorar. Quanto as tarefas, trabalhos solicitados e prazos por cumprir, estes seriam apenas para atender aos interesses dos próprios professores. E se, em função de tal descaso, a instituição reprová-lo, ainda consideram uma injustiça tal decisão.

Talvez a afirmação mais sedutora de Charlot seja a de que o professor espera encontrar na sala, em cada aluno, um clone de si mesmo, ou seja, um ser dado à reflexão, crítico, um leitor do mundo e das obras indicadas. Mas, para Charlot, a parte também existente no professor, que questiona, que argumenta contra certas determinações e que nem sempre segue as determinações de seus superiores sem antes fazer algum protesto, esta fração de si mesmo o professor rejeita no aluno, vendo neste tipo de docente aquele que atrapalha, que incomoda, isto é, o mau aluno.

E por que tal tensão insiste em existir? Nas palavras do próprio educador, “o primeiro problema que o docente enfrenta é não produzir diretamente seu trabalho. Explico: o que faz o aluno aprender é sua própria atividade intelectual, não a do mestre. O trabalho do educador é despertar e promover essa atividade.”


domingo, novembro 19, 2006

ECS 9 - Versão inicial; primeiras reflexões

Interessante saber que os autores estudados, Marx e Engels, jamais escreveram sequer um simples folheto sobre educação e ensino, mas o quanto estão presentes com suas teorias nas reflexões da práxis cotidiana de nossa sociedade. Contudo, como todo socialista, viram no ensino possibilidades de transformação, ou seja, instrumentos para libertação das condições opressoras da sociedade capitalista. O texto de Weber e Engels fala da saída do homem do campo para a fábrica e da exploração de seu trabalho pelo capital.

Os trabalhos mais simplórios, aqueles que não exigiam grandes habilidades intelectuais, para eles impedia que o operário pudesse ocupar seu pensamento com qualquer coisa que não fosse consertar o que se rompesse na linha de produção ou zelar pelo bom funcionamento de todas as engrenagens. O indivíduo permanecia alijado de suas faculdades criativas.

Entretanto, é este mesmo sistema capitalista que promove (pois exige) uma certa capacidade intelectual dos seus operários. Com isso, incrementou-se o número de escolas e vimos cair os índices de analfabetismo. Paralelamente, o trabalho infantil aumenta, assim como o número de mulheres no mercado de trabalho também. Neste contexto, o grau de complexidade de uma tarefa está intimamente ligado a idéia de instrução; quanto menor a complexidade, menor também é a necessidade de aprofundamento intelectual, maior a quantidade de pessoas disponíveis para tanto e, por isso, o surgimento da mão de obra barata. Por isso, entenda-se que este índice menor de analfabetismo não significa, necessariamente, um intelecto aprimorado sendo buscado pelo capitalismo. O que se deseja é que o operário saiba ler e escrever, bastando isso.

quarta-feira, novembro 15, 2006

EPPC 11

Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de EducaçãoPedagogia a distância: Anos iniciais do Ensino Fundamental (PEAD)Aluno: Paulo Assis Costa MedeirosPólo: Gravataí
Interdisciplina: ESCOLA, PROJETO PEDAGÓGICO E CURRÍCULO
Professora: Rosane Aragon de Nevado
Unidade: 6
Atividade: 11
Data: 15 de novembro de 2006

Filme escolhido: Escola do Rock

Ficha Técnica do Filme
Título Original: School of Rock
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 108 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2003
Site Oficial: www.schoolofrockmovie.com
Estúdio: Paramount Pictures / Scott Rudin Productions / MFP Munich Film Partners GmbH & Company I. Productions
Distribuição: Paramount Pictures / UIP
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Mike White
Produção: Scott Rudin
Música: Craig Wedren
Fotografia: Rogier Stoffers
Desenho de Produção: Jeremy Conway
Direção de Arte: Adam Scher
Figurino: Karen Patch
Edição: Sandra Adair

Elenco:
Jack Black (Dewey Finn), Mike White (Ned Schneebly), Joan Cusack (Rosalie Mullins), Sarah Silverman (Patty Di Marco), Joey Gaydos Jr. (Zack), Miranda Cosgrove (Summer Hathaway), Kevin Alexander Clark (Freddy Jones), Robert Tsai (Lawrence), Maryam Hassan (Tomika, Rebecca Brown (Katie), Caitlin Hale (Marta), Aleisha Allen (Alicia), Brian Falduto (Billy), Zachary Infante (Gordon), James Hosey (Marco), Angelo Massagli (Frankie).

Questões para análise:
a) Qual é o tipo de escola retratado no filme?
b) O que fez o professor para ensinar?
c) O que mostra que os alunos estão aprendendo?
d) Todos os alunos aprendem do mesmo jeito?
e) Todos os alunos podem ser tratados da mesma maneira?
f) Como lidar com as diferenças?

O filme tem todos os elementos presentes para um desastre cinematográfico: uma fórmula já conhecida do professor que desafia normas rígidas de uma escola de elite, causando mudanças profundas no corpo discente e docente, aproximando pais e filhos e, de quebra, lapidando seu próprio perfil pessoal, geralmente um caos neste tipo de personagem.

Contudo, as quase duas horas de picaretagem, trapaças, ensaios musicais, revelações de foro íntimo e superações pessoais resultam numa excelente surpresa de hollywood. Aliás, haver escalado o ator e cantor de rock Jack Black confere uma aura de veracidade às palavras do professor nada convencional quanto este fala da importância de não desistir dos sonhos, por mais que as pessoas os ridicularizem.

Também é importante frisar que as crianças presentes no filme foram escaladas mais pelo talento musical (todos realmente tocam os próprios instrumentos) do que pela capacidade de interpretação, ainda que nem nesta área deixem a desejar.

As crianças estudam em uma escola privada, dirigida por uma senhora inflexível quanto às regras, a qual apresenta uma grande insegurança no contato com os pais dos alunos. Enquanto se mostra severa na punição de qualquer falha de alunos e professores, não demonstra a mesma tenacidade em cobrar uma presença maior dos pais no cotidiano escolar de seus filhos, visto que os responsáveis somente aparecem na escola na chamada “noite dos pais”. Trata-se de uma instituição possuidora de todos os recursos didáticos e tecnológicos imagináveis e que, aparentemente, possui um corpo docente impecável em seus currículos. Aliás, por isso mesmo é que percebemos que apenas em uma obra de ficção um farsante como o retratado por Jack Black poderia lecionar em tal escola.

Como tal, o senhor S, nome dado ao “professor”, mostrou-se completamente perdido nos primeiros minutos com os alunos em sua estréia como substituto de uma professora. Visto que os alunos já estavam visivelmente acostumados com uma rotina imutável, sua perplexidade era tamanha perante o dito professor que imediatamente contestaram suas idéias nada ortodoxas para aquele primeiro dia de atividades. Contudo, a rejeição inicial deu lugar à aceitação das sugestões do senhor S quando este passou a destacar nos alunos suas habilidades completamente ignoradas tantos pela escola quanto por suas famílias.

No filme, o que mostrava que os alunos estavam aprendendo eram suas intervenções criativas que ajudavam a todo instante ao próprio professor na condução das tarefas propostas. Um exemplo claro de tal afirmação fica por conta do menino que criou. em apenas três dias, e sem o auxílio direto do professor, uma complexa sequência de iluminação e animação computadorizada para a apresentação dos colegas da banda de rock. Porém, o diretor deixou claro que as crianças não aprendem do mesmo modo, fazendo com que alguns alunos do senhor S o desafiassem constantemente mostrando-se completamente desmotivados por não acreditarem que tivessem qualquer talento. Certos alunos necessitavam apenas de uma ou duas palavras de incentivo, enquanto outro exigiam uma atenção exclusiva, particular e quase permanente para que correspondessem aos objetivos do grupo. Mas, aparentemente, o professor pecava ao demonstrar desinteresse pelas sugestões dos pequenos. Por exemplo, com o menino estilista, temos um excelente exemplo de perseverança, pois mesmo quando tem suas sugestões de roupas para o grupo completamente reprovadas, agarra-se a um comentário dito ao acaso e quase ironicamente – melhor usar uniformes no palco – transformando tal sarcasmo em ponto de partida para a criação de roupas que eram nada mais que uma revisão do uniforme escolar, agregando a este elementos próprios de uma banda de rock.

Os alunos não eram tratados da mesma maneira, desmistificando a idéia muito presente de que todos os alunos são iguais aos olhos do professor. Ainda que os educadores não façam distinção entre seus alunos na sua capacidade de aceitá-los em suas diferenças, o senhor S nos mostra o quão importante é não mascarar as diferenças de cada criança, estando alerta para as situações em que tais diferenças podem ser valorizadas, para promover a inclusão de cada um em seu grupo, tendo presente entre as crianças que não há ser humano apto a tudo, sabedouro de todas as coisas e que cada um pode e precisa contribuir com o que é para que possamos todos crescer juntos.

domingo, novembro 12, 2006

ECS 8 - Experiências e expectativas no curso

Escrevo este pequeno texto aos colegas de meu grupo de PEAD e a todos os que acessem o blog, relativo ao trabalho solicitado na atividade ECS8, na qual somos orientados a escrever acerca de nossas experiências no curso, os desafios enfrentados, conquistas, expectativas, etc.

Tem sido extremamente prazeroso estudar utilizando computador, os inúmeros recursos disponibilizados através do Rooda, o contato com os colegas via e-mail e a ausência de um horário inflexível de aulas diárias, como aconteceria em um curso presencial.

Alguns colegas, percebo pelos relatos nos fóruns, justamente queixam-se da pouca troca face a face com os demais. Pois a possibilidade da quietude, do retiro para estudar no recanto eleito em meu próprio lar foi, a princípio, o que me motivou a inscrever-me no vestibular assim que anunciado. Sempre preteri os trabalhos em grupo quando adolescente e mesmo adulto. Embora nunca tenha confundido tal opção com dificuldade para trabalhar em equipe, a educação a distância respeita meu próprio tempo, visto que nem todas as atividades necessitam do mesmo período de horas para serem realizadas.

Anos atrás, estudando no Japão, passava cerca de doze horas frente a uma escrivaninha em um laboratório de química, compartilhando-o diariamente com um professor e outros cinco alunos japoneses. O ritmo de trabalho era constante, mas sem pressão, ou seja, não havia prazos curtos para a apresentação de trabalhos. Deveriam, primeiramente, primar pela qualidade. E aquelas doze horas, a maioria imersas no mais completo silêncio que fazíamos, quando apenas sons do teclado dos computadores, o folhear das páginas dos livros ou os ruídos de algum experimento que estivesse certo aluno estivesse a conduzir promoviam uma atmosfera de introspecção e estudo. Ainda que, atualmente, eu não disponha das mesmas doze horas diárias para aplicar-me aos estudos, em função da carga horária de trabalho, procuro equacioná-las da melhor forma ao longo da semana.

Aliás, a escassez de tempo pode tornar-se uma dificuldade para cada um de nós se este não for devidamente gerido. Desde o início do curso, incontáveis foram os finais de semana nos quais foi preciso deixar amigos de lado, a tv desligada, aquele livro esperando, entre outras coisas, prevalecendo todo o tempo disponível para as atividades programadas. Penso que se isso nos parece um tormento, estamos na modalidade errada de estudos ou trabalhando horas em demasiado ao longo da semana, destinando um período insuficiente para o que necessita de uma atenção maior: nossa formação.

A dificuldade maior que encontrei afirmaria ser por conta da postagem das atividades. Nada que nos impossibilite o trabalho, mas uma unicidade na publicação seria bem-vinda.
Causa-me igualmente certo desconforto quando me deparo com blogs de colegas repletos de registros que não lembrei de postar no meu blog pessoal. Por vezes leio alguma colega escrevendo sobre as visitas que fez ao demais blogs na semana 1, na semana 2 e assim sucessivamente e penso: deveria fazer o mesmo? Ou seja, devo transformar meu blog em um registro diário de tudo o que é pertinente ao estudos? Acho interessante isso, mas não estou certo se é o objetivo principal. E como escrevia sobre tempo, sendo este menor para uns do que para outros, quanto mais pudermos focar o mesmo em um número menor de tarefas, acredito que todos ganharão em qualidade na produção das mesmas.

Quanto às dificuldades encontradas, estas são diferentes de acordo com a interdisciplina. Por exemplo, até o momento todas as tarefas da interdisciplina Educação e Tecnologias da Comunicação e Informação exigiram o conhecimento que já possuo em informática. De qualquer modo, aprendi a explorar novos recursos em cada um dos softwares indicados, principalmente através dos tutoriais muito bem elaborados. Já nas demais interdisciplinas, percebi que foi preciso privilegiar o total silêncio para desenvolver as tarefas solicitadas, pois exigiam bastante leitura e reflexão (de modo algum estou afirmando que a interdisciplina de Educação e Tecnologias não necessite de concentração e retiro; apenas que não enfrentei dificuldades com os softwares).

E é na superação das dificuldades que refletimos acerca de nossas conquistas. E estas foram muitas para todas, estou certo, mesmo que em menor ou maior grau de importância aos olhos alheios à nossa trajetória pessoal. O próprio blog pessoal já é uma conquista, principalmente para aqueles colegas que não tinham muita intimidade com a informática. Acessar o Rooda, postar atividades, deixar recados no fórum e depoimentos sempre sinceros no diário de bordo – tudo representa o reflexo do progresso de cada um. Contudo, creio que experimentei um especial momento de conquista em uma determinada reunião pedagógica na Escola em que leciono, quando foi-nos pedido tecer algumas linhas acerca de um determinado tema. Notei o quanto as leituras indicadas pelos nossos professores da UFRGS contribuíram, mesmo nesses poucos meses de curso, para uma reflexão mais acurada, embasada em teorias e utilizando uma terminologia apropriada, comentário tecido pela equipe pedagógica em particular com relação à minha produção textual. Senti-me lisonjeado pelos comentários e grato aos meus professores.

Aliás, aproveitando que citei “comentários”, como tem sido importante receber por parte dos professores, tutores e colegas e-mails e comentários acerca das atividades que são publicadas! Percebo que as palavras não são digitadas a esmo e que todos realmente preocupam-se em elogiar algo bem feito. E quem não gosta de receber um parecer positivo acerca do que compartilha com tanto prazer?

A respeito dos pareceres, já aconteceu de receber de uma tutora um alerta para uma atividade que eu postara anteriormente, mais precisamente sobre o painel da escola a partir de uma imagem desta, dando conta que meu trabalho não correspondia necessariamente ao que fora pedido. Percebi, após rever meu trabalho que, realmente, o resultado estava longe de representar o que um aluno da UFRGS e professor teria condições de fazer. Grato por receber um estímulo para refazer o painel, notei que preocupara-me mais na manipulação da imagem escolhida, alterando digitalmente vários elementos para agregar um novo sentido à fotografia escolhida, deixando involuntariamente a concepção de escola para um segundo plano. Em tempo: esta atenção da tutora fez-me experimentar o quão podemos crescer a partir de um erro quando bem orientados.

Quanto às expectativas para os próximos meses, acredito que seremos todos mais e mais cobrados, o que será um estímulo na busca por lapidação pessoal e profissional. Creio igualmente que certas dificuldades encontradas neste semestre estarão fadadas ao passado, cedendo lugar a outras com as quais todos precisaremos lidar. O importante é que mantenhamos em mente o que nos trouxe à UFRGS e que não permitamos que colega algum se esqueça o quão imperativo é para o nosso trabalho qualificar nossa práxis cotidiana.

sábado, novembro 04, 2006

EPPC 9


Caros professores, tutores e colegas:

A atividade 9 da unidade de estudo 4 já se encontra postada em meu webfolio. Caso não seja possível, em seu computador, abrir corretamente o arquivo salvo em modo texto, salvei-o também com a extensão html, a fim de que o mesmo pudesse ser lido em qualquer computador.

Agradeço sua apreciação.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Paulo Freire - EPPC 3



Leituras a respeito de Paulo Freire

Paulo Freire, ao desenvolver suas pesquisas e reflexões acerca da educação, optou por seguir o dia a dia de sua práxis. O método Paulo Freire veio como uma imperiosa necessidade de inventar um novo instrumento, este eficiente como meio para responder ao desafio que lhe propunha o cotidiano.

Aos 38 anos publicou seu primeiro livro, Educação e Atualidade Brasileira, um resultado da experiência acumulada em aulas, conferências, relatórios e debates. Em sua fala, pregava tanto contra a consciência intransitiva quanto àquela fanatizada. Para ele, a educação precisa ajudar as pessoas a exercerem a consciência crítica como forma de vida.

Para Freire, educar necessita de paixão. "A paixão implica em interesse pelo outro, em desejar o desejo do outro, em querer aprender, dialogar, influir, formar. Aponta para a busca de se conhecer e de se transformar. Pressupõe a consciência da incompletude do ser humano. Daí o desejo de se modificar, de formar, não para que todos pensem igual, mas para que todos possam crescer, libertar-se e ser solidários, na base do respeito à diferença." Diferente da pedagogia tradicional, a pedagogia freireana coloca o diálogo enquanto centro da educação, não a figura de uma pessoa, ou seja, nem o professor, nem o aluno.
A educação, para Paulo Freire, não pode se furtar do seu papel de fonte de esperança, pois ele só validava a prática pedagógica que devolvesse ao educando a esperança de que, com a educação, este poderia mudar seu status quo, mudando sua história com suas próprias mãos, não tornando seu presente o resultado de um passado que escraviza e determina a trajetória de cada um.

Freire instigou os professores a mudar o modo como ensinam e aos educando exortou a mudar sua própria história. Com sua práxis, forjou uma pedagogia e uma sociologia da educação vinculadas a um chamamento em favor da democratização da sociedade e da escola. O educador apresentou uma teoria centrada no diálogo, na reciprocidade e um método de problematização que devem ser reinventados tanto por professores quanto pelos alunos em cada nova situação vivida.

EPPC 8



Fotografia: Professor Miguel Arroyo

Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Educação
Pedagogia a distância: Anos iniciais do Ensino Fundamental (PEAD)
Aluno: Paulo Assis Costa Medeiros
Pólo: Gravataí
Interdisciplina: ESCOLA, PROJETO PEDAGÓGICO E CURRÍCULO
Professora: Rosane Aragon de Nevado
Unidade: 3
Atividade: 8
Data: 22 de outubro de 2006

RESUMO ANALÍTICO

Título: Certezas nem tão certas

Autor: Miguel Arroyo

Dados da publicação: Ofício de Mestre: Imagens e Auto-Imagens. 2.ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2000.

Palavras-chave: Crenças, valores, retenção, desestabilizar, resistências, tensão


Temática principal: O texto do professor Miguel Arroyo fala basicamente acerca dos tempos humanos. Atento ao tempo de cada indivíduo e sua maturidade, Arroyo defende os ciclos como uma organização que respeita a prontidão do educando, derrubando crenças que na organização seriada engessam os fazeres da escola, entre as quais a de que uma escola que não reprova seria uma escola em que não existiria avaliação, sendo o contrário um dos valores mais arraigados no cotidiano escolar. Defende ainda o professor que, na melhor das intenções, escolas limitam-se a discutir como reduzir índices de aprovação, mas não como acabar com ela.

Conclusões do autor: O professor parte de uma afirmação: a escola seriada não respeita os tempos de cada aluno, ignorando por conseguinte o próprio educando como ser humano. Ao defender, contudo, uma organização escolar em ciclos, o autor ressalta que muito do que se percebe como sistema de ciclos instituídos nas escolas públicas brasileiras não é de forma alguma semelhante ao que ele vem postulando. Arroyo destaca que denominações tais como primeiro ciclo e segundo ciclo estão muito próximas do antigo primário e antigo ginásio e que são, tão somente, mais uma forma de organizar as séries. Ao promover um verdadeiro escrutínio no real sistema de ciclos e no sistema seriado, promovendo uma reflexão sobre ambos, afirma que cada reprovação ocorrida no segundo é um “tapa na cara em nosso profissionalismo”. Não sobra espaço para qualquer dúvida a respeito do que moveria os professores em protesto à ciclagem das escolas: o receio quanto a existência ou não da reprovação na escola por ciclos, visto que “certamente” os discentes não estudariam disciplinada e efetivamente sem o medo de uma possível reprovação. Para Arroyo, urge aprofundarmo-nos em estudo acerca do porquê ser tão sagrada a cultura da retenção de alunos. Sendo assim, lança um questionamento ao leitor educador quanto a como devemos estruturar o processo pedagógico a fim de valorizar toda uma pluralidade de tempos de cada educando, singular em cada etapa do seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, cultural, ético e social, para ficarmos nestes. E, em tempo, decreta que “reprovar será sempre uma violência para os educandos e educadores”.

Idéias do autor a partir de minhas experiências: Não escolhi em vão a leitura de um artigo do professor Miguel Arroyo, visto que conheço suas idéias acerca do sistema de ciclos e seu completo desencanto com o sistema seriado. Já trabalhei em uma escola ciclada, mas percebia que em quase nada diferenciava-se de outras escolas, seriadas, na forma como conduziam o cotidiano pedagógico em todas as dependências da instituição de ensino. Recordo-me que os alunos que não apresentavam condições de promoção para o que seria a série seguinte na escola seriada, eram colocados em turmas de aceleração em turno contrário ao dos estudos regulares. Particularmente, pensava que tanto a carga horária dobrada de estudos quanto a ênfase em uma recuperação de conteúdos em nada se diferenciava da prática cotidiana e nada mascarada das escolas por séries. Ou seja, para mim a escola ciclada era apenas um modismo e não apresentava as soluções para os impasses que afirmava poder resolver de forma definitiva quando comparada a uma escola de sistema seriado. Pois ao ler este texto de Miguel Arroyo dei-me por conta que nem de longe esta dita escola ciclada mereceria tal denominação. O próprio Arroyo cita as mesmas incoerências, indo além, afirmando que são todas práticas medíocres, sem grande rupturas. De qualquer forma, não sei se discordo do professor ou da LDB, quando ele nos lembra que a mesma impute nos educadores a tarefa de dar conta da formação humana plena dos educandos. Perguntaria ao professor a respeito do papel da família do educando em sua formação; estaria a LDB nos isentando apenas de alimentar e vestir nossos alunos? De qualquer modo, também eu acredito que o educando não pára por não saber regras gramaticais ou toda a tabuada de multiplicação de forma a não hesitar ao usá-la. Acredito piamente que todos têm seu momento e aqui simpatizo com a verdadeira escola ciclada, ainda que eu trabalhe há dezoito anos em uma escola onde estão previstas séries em seu projeto político pedagógico. Aliás, como pode-se atestar pela reuniões de professores ao longo do ano letivo, persiste uma preocupação muito grande com relação à construção do conhecimento dos alunos, formas e caminhos para efetivá-la, diminuindo e, não negamos para um futuro próximo, extirpando a reprovação do nosso rol de probabilidades finais.

EPPC 6



          DESPERTAR

Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Educação
Pedagogia a distância: Anos iniciais do Ensino Fundamental (PEAD)
Aluno: Paulo Assis Costa Medeiros
Pólo: Gravataí
Interdisciplina: ESCOLA, PROJETO PEDAGÓGICO E CURRÍCULO
Professora: Rosane Aragon de Nevado
Unidade: 3
Atividade: 6
Data: 13 de outubro de 2006


A professora Lucia Helena Carrasco em seu texto “despertar”, propõe uma reflexão sobre movimento. Não um movimento ordinário, qualquer, um simples deslocamento de corpos materiais. Atenta ao cotidiano das escolas a nossa volta e a esta necessidade de movimento, instiga o leitor-educador a sair de seu estado de imobilidade. Um abandono, um desgarrar-se da postura viciada na segurança e na previsibilidade.

Com sensibilidade suficiente para não apontar culpados desse estado de imutabilidade, busca no próprio cotidiano daqueles que compõem este universo chamado escola as razões para que se promova uma ruptura urgente não em apenas um, mas em todos os segmentos das instituições de ensino. Fugindo do equívoco fácil de apontar na prática do professor a razão para desencanto e pelas reprovações de alunos, não nos exime de certa parcela de responsabilidade, mas resgata a necessidade de um olhar mais profundo com relação às causas da expectativa frustrada ao final de um ano letivo: a ausência de um entendimento de suas raízes, estas de cunho social, político, familiar e pedagógico e seus efeitos imediatos. É o todo que não se conhece ou fica invisível aos olhos vendados daqueles que não se permitem sondar o que possa existir além de suas próprias certezas.

Em tese, todo educador estuda, lê e ouve que precisa partir da realidade do aluno ao planejar suas aulas. Mas que realidade é esta que não é conhecida e que só mostra sua cara nos atos de violência cometidos dentro da própria instituição, emprestando, principalmente ao adolescente, uma aura de negligência consigo mesmo e desrespeito a toda regra, mesmo se constituída pelo grupo como um todo?

Aparentemente, todo aluno sabe que à escola cabe o papel de ser ponte entre sua condição presente e suas aspirações quanto ao futuro. Entretanto, fruto de uma cultura ocidental imediatista, não espera a maturação necessária de seus projetos, ficando ele também cego às necessidades próprias de seus mais caros desejos de médio e longo prazo. A urgência de um despertar está estampada em cada parede pichada, em seus cadernos incompletos, nas tarefas jamais concluídas ou sequer iniciadas. Igualmente se encontra na merenda jogada ao chão, nas lixeiras vazias e nos espaços de convivência imundos. Entretanto, parece-me que a mais gritante prova de uma necessidade de mudança de paradigmas na sociedade e, portanto, nas escolas, é o fato de que nossos alunos não têm mais um exemplo em quem se espelhar. Cresceram em um cotidiano no qual aprenderam com as apresentadoras de programas infantis que um corpo bem trabalhado basta, mas esqueceram-se que nem todos seremos modelos de revistas de moda ou personagens de reality shows, e que tais experiências de vida são por demais efêmeras. E não se trata de ter alguém para imitar, pois incorreriam no erro de subestimar o valor de sua singularidade. Trata-se de uma lacuna quase completa de valores que se mostrem perenes e significativos na construção de uma vida plena, feliz e repleta de sabedoria.

Por sua vez, ao educador que se depara com seus alunos canalizando uma imensa energia para toda e qualquer atividade que não seja a proposta por ele, restam inúmeras alternativas, mas infelizmente talvez seja a de indiferença, fruto da insegurança para intervenções nunca experimentadas, aquela da qual mais comumente lance mão. As respostas para tais questões, os caminhos a seguir e as ações necessárias por certo não se encontram impressos em livros nem serão ouvidos em seminários de formação continuada.

Um bom início seria diminuir a ansiedade do professor em estar sempre de posse do conhecimento e das etapas da sua construção. Inteirar-se de outras ferramentas, atrativas aos seus alunos, fazendo uso delas para uma aproximação entre as partes, promovendo assim o movimento tão necessário para que ocorra essa ruptura necessária em que o torpor de um cotidiano enfadonho e repetitivo a todos coloca. Aluno e professor precisam percorrer caminhos paralelos e que, com freqüência, se tornem um só, ou todos correremos o risco de termos nas nossas escolas um exército de espíritos adormecidos, aguardando um futuro que parece tão distante, torcendo que ele seja mais instigante e atrativo que o presente.

Marx e Engels - ECS 7 - Em hipertexto



Engels (esq) e Marx

A cidade mais antiga da Alemanha, Trier ou Tréveris, orgulha-se de haver concebido um dos fundadores da Sociologia, o intelectual Karl Marx. Nascido em 5 de maio de 1818, este alemão influenciou também a filosofia, a economia e a história. Nascido em uma família de classe média, Marx teve uma trajetória de vida, com freqüência, marcada por restrições políticas e sociais de todo tipo. Seus próprios pais, de origem judaica, visaram-se forçados à conversão ao cristianismo em função da restrição dos judeus no serviço público da época. Iniciou Direito em Bohn mas foi impedido de prosseguir a carreira acadêmica já na Universidade de Berlim pelo recrudescimento do absolutismo prussiano. Já redator-chefe de um jornal em 1842, viu a redação ser fechada pelo governo. Emigrou para a França e casou-se, mas conheceu péssimas condições financeiras ao lado da esposa e prole formada por cinco crianças. Foi assim que, durante grande parte de sua vida adulta, Karl Marx procurou sustentar a si e à família com os recursos advindos de artigos que publicava em jornais alemães e americanos, assim como através do auxílio financeiro de seu amigo Friedrich Angels. De qualquer modo, Marx falhou em seu intento de angariar fundos por meio da publicação de livros que analisassem a história recente.

Em sua dialética, afirmava que o conhecimento espiritual de modo algum alteraria a produção da existência e, por conseguinte, a sua interação social. Pregava que o corpo social transformava sua subjetividade com a atividade prática.

Rejeitava o materialismo teórico e reivindicava uma filosofia que se propusesse a modificar o mundo em lugar de apenas interpretá-lo. Pensamento e realidade deveriam coexistir. Sociólogo humanista, preocupava-o sobremaneira a alienação do homem e a acumulação do capital.

"O que Marx mais critica é a questão de como compreender o que é o homem. Não é o ter consciência (ser racional), nem tampouco ser um animal político, que confere ao homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir suas condições de existência, tanto material quanto ideal, que diferencia o homem."

O ponto de partida da teoria marxista é, definitivamente, a economia inglesa de então. Durante a revolução industrial, surgiu a classe proletária, fruto do capitalismo industrial, o qual proporcionou a concentração de capital nas mãos de poucos. De acordo com a concepção marxista, haveria uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, sendo a história da humanidade constituída por uma permanente luta de classes.
"Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustiça social, e que o único jeito de uma pessoa ficar rica e ampliar sua fortuna seria explorando os trabalhadores, ou seja, o capitalismo, de acordo com Marx é selvagem, pois o operário produz mais para o seu patrão do que o seu próprio custo para a sociedade, e o capitalismo se apresenta necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema."

Tal qual Marx, Friedrich Engels foi um filósofo alemão. Nasceu em 28 de novembro de 1820 e morreu em 5 de agosto de 1895. Era filho de um rico industrial de Barmen. Com Marx, fundou o socialismo científico ou marxismo. O trabalho conjunto de ambos se deu de maneira tão sistemática que o próprio Manifesto Comunista foi uma obra escrita a quatro mãos. Também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O Capital, principal obra de seu amigo e colaborador.

Engels escreveu livros de profunda análise social. Sem dúvida nenhuma, Engels foi um filósofo como poucos: soube analisar a sociedade de forma muito eficiente, influenciando diversos autores marxistas.

Sua juventude já dava sinais do caminho que filho de Barmen seguiria. Impressionado com as condições de miséria extrema em que viviam os trabalhadores das fábricas de sua própria família, escreveu A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra, obra publicada em 1845. Foi durante o período em que acumulava material para compô-la, que encontrou Marx em Colônia. A partir de então, passou a participar ativamente do movimento operário e socialista internacional. Em 1870 vendeu as ações da firma que dirigia, instalando-se em Londres para dedicar-se exclusivamente à luta revolucionária, contribuindo para a formação dos partidos socialistas francês e alemão. Acabou por tornar-se o maior líder do movimento operário internacional.

Uma década depois, nos anos que se seguiram a 1880, na maior parte dos países europeus já existiam organizações proletárias, surgindo a necessidade imperativa de consolidar a solidariedade entre elas, tornando-se uma das tarefas principais, a criação de uma nova organização internacional, que reunisse socialistas de todo mundo.

Já com a idade avançada e com a saúde precária, em 1893 Engels viajou por vários países europeu a fim de ativar a propaganda marxista. Exortou a manter e proteger, em todas as circunstâncias, a unidade na luta contra o capitalismo.

Hoje, as classes menos favorecidas e que lutam pela sua emancipação tornaram suas as idéias de Marx e Engels. Para os dois sociólogos, quanto maior fosse a sua força como classe revolucionária, mais próximo e possível estariam os desfavorecidos do socialismo.