domingo, novembro 26, 2006

Reflexões sobre as palavras de Charlot

Após ler a entrevista com Bernard Charlot na revista Nova Escola de outubro de 2006, na qual afirma acertadamente que a escola perde seu sentido quando faltam “reflexão no saber e prazer e aventura em classe”, busquei na Internet mais dados acerca deste pesquisador francês que tem olhado para a escola brasileira com uma especial atenção. O que mais cativou-me em sua postura foi a sua escolha por não apontar obstinadamente os culpados pelos problemas que todos nós conhecemos. Charlot opta pela busca da origem das crises enfrentadas diariamente nas mais diferentes escolas do Brasil e de sua terra natal, a França.

Conclui o pesquisador que certas questões são universais e que a escola é uma delas.

Para Charlot, existe realmente um descompasso entre o professor e o aluno. Os frutos de tamanho abismo são a falta de entendimento acerca dos resultados obtidos pelo aluno ao final de um dado período de estudos. O aluno argumenta que estava presente em todas as aulas e diz não entender o porquê de uma avaliação negativa por parte de um professor que afirma ser o educando um preguiçoso. Obviamente são dois pontos diferentes – presença física e comprometimento com o trabalho – e que acabam resultando discursos distintos. Para o professor Bernard Charlot, o que precisa ser analisado por ambas as partes é a sua trajetória no ensino, na construção do saber, observando também a situação de aprendizagem sob o ponto de vista alheio, buscando entender onde houve falha.

Segundo o mestre, para os alunos franceses a escola é um lugar basicamente onde lhe é proporcionada diversão e espaço para namorar. Quanto as tarefas, trabalhos solicitados e prazos por cumprir, estes seriam apenas para atender aos interesses dos próprios professores. E se, em função de tal descaso, a instituição reprová-lo, ainda consideram uma injustiça tal decisão.

Talvez a afirmação mais sedutora de Charlot seja a de que o professor espera encontrar na sala, em cada aluno, um clone de si mesmo, ou seja, um ser dado à reflexão, crítico, um leitor do mundo e das obras indicadas. Mas, para Charlot, a parte também existente no professor, que questiona, que argumenta contra certas determinações e que nem sempre segue as determinações de seus superiores sem antes fazer algum protesto, esta fração de si mesmo o professor rejeita no aluno, vendo neste tipo de docente aquele que atrapalha, que incomoda, isto é, o mau aluno.

E por que tal tensão insiste em existir? Nas palavras do próprio educador, “o primeiro problema que o docente enfrenta é não produzir diretamente seu trabalho. Explico: o que faz o aluno aprender é sua própria atividade intelectual, não a do mestre. O trabalho do educador é despertar e promover essa atividade.”


Um comentário:

Jurema disse...

Olá Paulo é um prazer estar fazendo uma visita virtual em teu blog.Sou do Pólo de Alvorada.Li o texto postado por você.Abraços.Ju